quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

DEUS, TE ASSISTIMOS --- CAPÍTULO III

Flashback:

Ismália desliza com o seu caminhar feminino, firme e seguro sobre uma rua do centro de Paris.
O seu cabelo castanho e ondulado voa com o vento que vem de encontro contra o seu corpo. O contentamento suave e sereno flui pelas suas veias. Era um dia feliz. E era um dia lindo naquela cidade francesa.
Ela entra em um café e os seus olhos vasculham todo aquele estabelecimento em busca de alguém com quem marcara um encontro.
E ela o encontrou. Andou depressa, ainda com o mesmo charme, até a mesa onde o seu noivo francês e arquiteto visionário estava lendo um livro.
Beijaram-se, e ela se sentou.

Após um tempo, Ismália estava comendo o seu creme brûlée e o seu amado, Benjamine, que também degustava da mesma sobremesa, interrompe o momento de apetite e pede a atenção de Ismália.

{MÚSICA DE TENSÃO}

"Pode falar. Estou te ouvindo", ela lhe afirmou, tornando-se tensa e perdendo o ar de suave alegria.

"Eu tenho algo muito sério para te contar" disse ele, pegando as mãos dela.

"Nossa... Conte-me, logo", suplicou Ismália no mesmo tom cheio de classe.

{MÚSICA DE TENSÃO}

---

PRESENTE

Agora, dentro do teatro, Ismália está caminhando no teatro, com um semblante mais pacífico e amigável.
Hagar e outra atriz, Scarlet observam o comportamento diferente que Ismália está mostrando.

"Ela anda muito estranha, você não acha?", Hagar cochicha, ainda observando Ismália, para Scarlet.

"É... Faz alguns dias que a vejo se comportando de um modo diferente", concorda Scarlet.

"O que será que deve ter acontecido? Ela não é mais a mesma mal humorada e contundente de sempre. E mais: parou de questionar o porquê de estarmos aqui. Com certeza, algo deve ter ocorrido" disse Hagar.

"Podemos descobrir. Porém, acho isso algo meio inútil" concluiu Scarlet.

"Bem... Isso é o que veremos" terminou Hagar.

-

Na verdade, a atriz cheia de classe e objeto de observação e discussão Ismália, havia mudado, sim. Durante alguns tempos [porque ali não havia tempo], ela continuou a frequentar o jardim do teatro, e lá encontrava Deus. Ela O via no vento gélido que soprava as flores e os seus cabelos, no céu nublado do crepúsculo, no relâmpago que se espalha pelo céu e no silêncio. Deus ia direto para o seu coração através do incognoscível. Ismália ouvia e entendia o que Deus falava.
Ela havia começado a deslumbrar o seu Criador.
Ismália O conhecia há pouco, mas já tinha iniciado um relacionamento com Ele... Isso já a deixava feliz.
Um regimento pacífica havia iniciado em seu mais interno coração.
Ela não compreendia como aquelas pessoas, aquele pessoal do teatro, contentavam-se em ver a Deus, somente, de tempos em tempos [já disse que lá não havia cálculo sobre semanas e dias, portanto denomino qualquer marcação cronológica como tempo].
Ismália se energizava em vivê-lO todos os dias e não entendia o espírito morno e desapaixonado dos humanos que habitavam aquele indefinido espaço: só buscavam ver a Deus, de vez em quando. E achavam que Ele só se encontrava numa sala através de uma TV. Contudo, Ismália não contava sobre as suas experiências com Deus, pois temia uma represália ou uma incompreensão de todos.

--

Sendo questionada por Hagar sobre o seu modo estranho de agir, ela nada respondeu. E com o convite para a reunião na sala de TV para assistir a Deus, logo após a pergunta, ela teve que aceitar. Ismália ia, finalmente, para aquela reunião onde diziam assistir a Deus.

--

Todos se acomodavam nas cadeiras e olhavam animados e com ar de boa surpresa para Ismália quando entrava naquela sala.
Tímida e recolhida, ela sorri de volta se sentando no assento mais longe das atenções.
Hagar entra e com postura de líder religioso [líder é o que ele já havia se tornado naquele lugar] começa uma oração.
Após isso, todos se prepararam e uma grande expectativa tomou e pesou os corações.
E Ismália tinha em si dúvidas falantes:

"Será que o Deus que verei é o mesmo que conheço? Será que verei que eles não veem e só se iludem?" E muitas outras tormentas e indagações que não posso identificar aqui.

A TV foi ligada e surpresa: só chiado.
Hagar começa a tentar consertar a máquina.

"Mas... Está no canal certo". resmunga ele.

Todos começam a ficar inquietos e Ismália no seu canto mantêm a calma, mas permanece em silêncio.
Hagar revira os canais, desliga e liga a televisão, contudo... Nada.

Mais uma hora nesse mesmo ritmo e ele tenta acalmar o povo com esperançosas palavras que serviam para convencer a ele mesmo de que Deus não havia sumido.

Eles fazem mais uma oração, porém Deus parece banido da existência.

Atormentado, Hagar confessa:

-Deus sumiu.

{TROVÃO}

Aí que todos caem no desespero.

Alguém pergunta:

- O que?

E ele de cabeça baixa, apoiado à estante da TV, vira-se para os presentes e diz com toda fúria:

-DEUS SUMIU! Não ouviram?

{TROVÃO}

Ele continua:

- ELE SUMIU! Ó... Onde estás? VOCÊ NOS ABANDONOU!

Ismália se levanta e diz timidamente e de modo fraco:

- Não...

Devido a ninguém escutá-la, ela grita:

- NÃÃO! Deus continua a existir.

Scarlet dá um tapa em sua cara e vai para cima dela:

-Pare de mentir!

Batendo nela, um ator a agarra e a leva para fora.

Ismália levanta se arrumando.

"Meu Deus..." ela fala bem baixo.

"SCARLET! SCARLET! FÁBIO, TRAGA-A AQUI! Fábio?" Hagar sai e procura Fábio e Scarlet.

Logo após alguns minutos, ele grita:

-AAAAAAAAAAAAAAAAH!

Todos correm até lá. Ele está no salão do teatro e Scarlet e Fábio estão caídos, estatelados no carpete vermelho do teatro.

"Ah... Eles pularam lá do camarote. Suicidaram-se..." Hagar conclui.

"Meu Deus..." Ismália diz ao começar a chorar.

"NÃO DIGA 'DEUS' AQUI. POIS, ELE NÃO EXISTE!" Hagar solta com todos os pumões, preenchido de ira.

{TROVÃO E TROVÃO}

[CONTINUA]

Por: Marcello Ferreira.













Nenhum comentário:

Postar um comentário