terça-feira, 7 de dezembro de 2010

DEUS, TE ASSISTIMOS --- CAPÍTULO II

Uma garotinha de vestido vermelho dança em meio a uma cidade destruída pelo acaso.
Pelos corvos e pelos gafanhotos que vieram numa primavera. Não sei se foi bem nessa época de florescer da natureza... Talvez tenha sido no calor do verão, no mistério do inverno ou também na omissão do outono.

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Sou eu. Sou Ismália que toma as rédeas da narração destes fatos.

Os momentos após eu acordar e me levantar, foi de conversa com o pessoal do teatro, pedindo-lhes explicações. Relatavam-me que estavam ali há dias e se lembravam somente do momento em que tudo explodiu. E de nada mais.
Eu não mantive os meus sentimentos em normalidade. Foi demasiadamente difícil assimilar tudo aquilo. Estava eu acordada ou mergulhada em um sonho?
Passei horas atordoada. Andava de um lado para o outro.

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Eu olhei de uma janela para fora do teatro, e vi que durante várias horas... Continuava uma tarde nublada, com os carros correndo como se estivessem indo para um fim. Esse que nunca chega ou nunca tem a sua alvorada. Não anoitecia. Também, tentei sair do teatro pela porta da frente. Porém, o mundo exterior não existia. A cidade que eu via, era somente vista. Um holograma. Tive prova disto, na minha tentativa de saída. Senti-me como se eu estivesse chocando o meu corpo contra uma parede e não conseguia ultrapassa-la.
Ali, só o prédio do teatro existia.

Sentada nas últimas poltronas da sala de espetáculos, acabei pegando no sono. Logo, quando acordei, vi uma movimentação e Hagar veio me chamar.

"Ismália... Vamos. Nós temos que ver Deus!" assim ele me convocou.

"O que?" indaguei-lhe.

Posso resumir aqui que Hagar me explicou que ali no teatro, tinha um camarim, no qual todo o grupo de atores se sentavam de frente a uma TV e assistiam, nada mais, nada menos que Deus.
No primeiro instante, nada entendi. Uma fagulha de dúvida acabou incendiando o celeiro da minha mente e me aprofundou no transtorno.
Comecei a andar em círculos e logo soltei o questionamento, de modo estúpido:

- O QUE? VOCÊ ESTÁ DE BRINCADEIRA COMIGO? ASSISTIR DEUS NUMA TV? CALE A BOCA! COMECE A ME DIZER ALGO SÉRIO E VERDADEIRO.

Continuei caminhando e logo parei. Aproximei-me de Hagar, andando lentamente, e olhando bem no fundo dos olhos, disse-lhe:

- O que é tudo isso, hein? É possível me explicar? Estou morta? Onde estou? DIGA-ME!

"Ismália... Eu nem me lembro de como cheguei aqui".

{MÚSICA DE TENSÃO}

Atordoada e com a alma se revirando, lacrimejei e perguntei como se não houvesse mais ânimo na minha garganta:

- O que?

Então, saí apressada em meu caminhar. Sentei-me dentro de um camarim e chorei.

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Um coral canta:
desastre! Desastre!

Uma tragédia grega chega ao ápice
CATÁRSE!

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Comecei a quebrar todas aquelas tralhas que haviam dentro daquela sala.
Inclusive o espelho.

Caminhei para fora, ferindo o chão de carpete de madeira cara, com os meus passos firmes e raivosos. Ó, ira!

Ó, devaneio!
O que estava acontecendo? Era uma ilusão? Estava eu, morta? Realidade paralela?
Essas chamas consumiam a minha alma.

Embravecida, caminhando pelos corredores dos bastidores do teatro, deparo-me com a visão: uma atriz sai chorando da sala, onde Hagar me disse, que eles assistiriam Deus numa televisão.

Dirigi-me a ela e questionei:

- O que está acontecendo?

Ela sorriu. de forma suave... Suavidade essa que vinha da alma e não era somente um desenho no rosto.

"Ismália... Deus me disse muitas verdades. Agora sei o que fazer com a minha vida. Você deveria entrar nessa sala [ela apontou] e também ter um contato com o Deus".

Ela se foi. Não entrou na sala. Acho que foi para o banheiro. Não a vi mais.
Só andei em direção ao pequeno jardim que havia no fundo do prédio do teatro.
Lá senti o vento.
Lá respirei o aroma das flores.
Lá um relâmpago tomou o céu.
Lá, ouvi uma voz estremecer o meu interior, dizendo assim:

- Sou Deus. Estou aqui.

Outro relâmpago cobriu todo o céu e os meus olhos tudo isso viu.

E o meu coração batia diferente.

[CONTINUA...]

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Segundo capítulo escrito por Marcello Ferreira.





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