Mais um barco se vai
mais um filho se vai
e no porto a lua sai
para se mostrar
Ai, ai, ai, ai
cantam assim as mulheres
Ai, ai, ai, ai
sobe ao céu os prantos das viúvas
Ai, ai, ai, ai
será que o filho vai voltar?
Ai, ai, ai,ai
será que as moças vão casar?
Tudo passa, nada fica
só a promessa
Sei, se vai
a alegria se vai
e num canto triste
cambaleando nas estradas
enfeitadas de neblina
as mulheres vão clamar
pelos filhos que para o mar foram
pelos maridos
pelos homens parentes
pelos namorados
que se afundam
que se adoecem
e o vestido pra casar
se guarda
e o sonho
se omite
senão dói!
E o sentido?
Para onde vai a vida, então?
Melhor morrer, daí?
Não se cura dor com dor
não se cicatriza com a ferida
nos prantos matutinos e noturnos
as moças e as velhas invocam a tristeza
pranteam, pranteam, pranteam
cantam, dançam, giropeam
amarguram, magoam, suicidam
mas nada volta
mas ninguém aparece
nem o amado
nem o pai
nenhum homem
retorna
E hoje
na cidade com castelos
na cidade cheia de martelos
de operários
de Marcelos
de Joãos
de amarelos
eis o pranto nosso de cada dia:
"-Deus nos livre! Deus liberta!
Deus me ajuda
esquecê
do passado que se foi
do passado que vai ví
como Manassés
olha os traumas
olha as mágoas
leva tudo
e me lava!
Livrai-nos
do vazio
do vazio
do vazio
do vazio..."
Pranteadoras cantam
os pecadores redimidos oram
"... Do vazio, do vazio, do vazio..."
Vazio
Vazio
Vazio
LIVRAI-NOS
PREENCHA-NOS!
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